quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Sextina e o cinema de Andrei Tarkovski


Aqui pouco descansa o público.
Quando o homem se encastela, bosque dos bosques
as jóias se convertem em flores, e a água
comporta e alerta um total de livros.
A luz nos conforta em cada cristal,
e cada gota vale por uma vida.

Aqui o cinema paga com a vida.
Cabe elevar e não esconder em público.
Abaixo, o pensamento; acima, o cristal.
A imagem e a palavra enlaçam bosques.
O tempo e a natureza se passam por livros
e a água rega o cinema com outra água.

Flui o tempo, justo como a água
que faz subir e descer da morte a vida.
Do presente e do passado faz cem livros,
e a resposta tem que ter bom público,
pois a madeira não entende que existam bosques,
nem paga, se é rico, quem quebra um cristal.

Blocos de tempo sobre este cristal
que lança o barro e deixa só a água,
o “filme” arma uma montagem onde campos e bosques
entram na rodagem, e tudo é vida.
Insufla o espírito. Decifra o público
os planos ou faz pipas com folhas de livros?

A água quieta de alguns livros
é corrente interna, e não há cristal
que não mostre um reflexo de imagem ao público;
assim como faz o pensamento, vai jogando a água
com uma corrente interna que dá vida
aos personagens através dos bosques

esculpidos em símbolos. Uns bosques
que se empobrecem sem som metidos em livros.
Tomemos outro estilo; vai embora a vida.
O tempo é um imenso palácio de cristal.
Não há sinal ausente sob esta água.
Respira o filme no espelho de um público.

Com freqüência o público olha e não vê. Bosques,
fogo, ar e água, no cinema como nos livros,
dão ao cristal uma virtude de vida.

[ Joan Brossa ]



Sobre Joan Brossa

Joan Brossa (1919-1998), um dos mais notáveis poetas da Espanha depois da Guerra Civil, viveu exclusivamente da sua arte poética. Trabalhou também com teatro, cinema, música, artes gráficas e plásticas. É autor de Gart (roteiro cinematográfico, 1948), Em va fer Joan Brossa (editado e impresso por João Cabral de Melo Neto, 1951), Poemes Civils (1961), Accions Musicals (poesia cênica combinada com música, 1975), Poemes-objete (1978), entre outros.

Eu recomendo o livro Poesia Vista de Joan Brossa
Editado pelos queridos amigos Stella, Vanderley e Barbão da Amauta Editorial, A seleção e tradução é do virtuoso Vanderley Mendonça.
http://www.amautaeditorial.com/index.php?secao=catalogo&idl=12&cl=4




Saiba mais sobre Joan Brossa

http://pt.wikipedia.org/wiki/Joan_Brossa
http://www.joanbrossa.org/



Sobre Andrei Tarkovski
http://www.jornaldepoesia.jor.br/ag39tarkovski.htm

http://www.geocities.com/contracampo/notassobreandreitarkovski.html


Filmografia completa (em inglês):
http://www.imdb.com/name/nm0001789/


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Sextina al cinema d'Andrei Tarkovski

[ Catalão ]

Aquí poc reposa el públic.
Quan I'home s'encastella, bosc dels boscos,
les joies esdevenen flors, i l'aigua
amara i posa alerta tot de llibres.
La llum ens reconforta en cada vidre,
i cada gota val per una vida.

Aquí el cine paga amb vida.
Toca elevar i no pas ronsejar en públic.
Per sota, el pensament; per sobre, vidre.
La imatge i la paraula enllacen boscos.
El temps i la natura es passen llibres,
i l'aigua rega el cine amb una altra aigua.

Flueix el temps, talment aigua
que fa pujar i baixar de mort a vida.
Del present i el passat en fa cent llibres,
i la resposta ha de tenir bon públic,
perquè el fustam no entén que hi hagi boscos,
ni paga, si és ric, qui trenca un vidre.

Blocs de temps sobre aquest vidre
que llença el fang i deixa només l'aigua,
el film arma un muntatge on camps i boscos
entren en el rodatge, i tot és vida.
Alena I'esperit. ¿Desxifra el públic
els plans o fa ocellets amb fulis de llibres?

L'aigua quieta d'uns llibres
és correntía interna, i no hi ha vidre
que no mostri un reflex d'imatge al públic;
tal com fa el pensament, va jugant l'aigua
amb un corrent intern que dóna vida
als personatges a través de boscos

tallats en símbols. Uns boscos
que s'empobreixen si es fiquen en llibres.
Prenguem un altre estil; hi va la vida.
El temps és un immens palau de vidre.
No hi ha senyal absent sota aquesta aigua.
Respira el film en el mirall d'un públic.

Sovint el públic mira i no veu. Boscos,
foc, aire i aigua, al cine com als llibres,
donen al vidre una virtut de vida.

[ Joan Brossa ]

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Sextina a el cine de Andrei Tarkovski

[ Catalão ]

Aquí poco descansa el público.
Cuando el hombre se encastilla, bosque de los bosques
las joyas se convierten en flores, y el agua
sujeta y alerta un todo de libros.
La luz nos conforta en cada cristal,
y cada gota vale por una vida.

Aquí el cine paga con la vida.
Toca elevar y no esconder en público.
Por debajo, el pensamiento; por encima, el cristal.
La imagen y la palabra enlazan bosques.
El tiempo y la naturaleza se pasan libros
y el agua riega el cine con otra agua.

Fluye el tiempo, justo como agua
que hace subir y bajar de muerte a vida.
Del presente y pasado hace cien libros,
y la respuesta tiene que tener buen público,
porque la madera no entiende que haya bosques,
ni paga, si es rico, quien rompe un cristal.

Bloques de tiempo sobre este cristal
que lanza el barro y deja solo el agua,
el "film" arma un montaje donde campos y bosques
entran en el rodaje, y todo es vida.
Insufla el espíritu. ¿Descifra el público
Los planos o hace pajaritas con hojas de libros?

El agua quieta de unos libros
es corriente interna, y no hay cristal
que no muestre un reflejo de imagen al público;
tal como el pensamiento hace, va jugando el agua
con una corriente interna que da vida
a los personajes a través de los bosques
tallados en símbolos. Unos bosques
que se empobrecen si son metidos en libros.
Tomemos otro estilo; nos va la vida.
El tiempo es un inmenso palacio de cristal.
No hay señal ausente bajo esta agua.
Respira el film en el espejo de un público.

A menudo el público mira y no ve. Bosques,
fuego, aire y agua, al cine como a los libros,
dan al cristal una virtud de vida.

[ Joan Brossa ]

Recorda-te um dia


Recorda-te um dia
desta cidade despedaçada
entre o barulho a besteira e a dor.
Criamos a infidelidade
o azul dos trottoirs de outro continente.
A loucura se tornou útil.
Dedicamo-nos a desenhar
portas de saída.


Desde teus olhos
o vazio está por reinventar.


Escuta a prece de nossos sexos
abafada pelo peso das palavras
o buraco de vosso blue jean
é a única janela
que dá para a esperança.
Todos sonhamos com trottoirs.
Os gritos de nossa nudez
são sem saída
como vossos silêncios.


[ Emmelie Prophéte ]



Emmelie Prophète é poeta haitiana.

Saiba mais sobre Emmelie Prophète (em francês):
http://www.lehman.cuny.edu/ile.en.ile/paroles/prophete_emmelie.html


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MENSAGEM AOS LEITORES

O Haiti é uma nação espetacular.

Era o maior tesouro da França do antigo regime. Representava sozinha 40% de todo comércio exterior francês.

Uma nação negra. O braço escravo que produzia o açúcar para Europa.

Esse braço tinha costas, e essas eram marcadas com o chicote.

Esse braço tinha olhos que podia ver a miséria e a injustiça que eram submetidos.

Esse mesmo braço escravo, também tinha ouvidos. E os ventos da Grande Revolução de 1789 sussurram suas divisas: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

Toussaint L’Overture, o general do povo Haitiano ouviu. E organizou a luta. E abriu o caminho para revolução haitiana.

Por causa dele a termo haitianista tornou-se alcunha de qualquer um que lutasse pela

O ex-escravo Jean-Jaques Dessalines lutou e derrotou as forças de Napoleão e libertou o Haiti.

O povo negro haitiano mostrou que os escravos podem acabar quebrar os grilhões e com suas próprias mãos decidir seu futuro.

Mas as elites opressoras do mundo nunca perdoaram isso. O escritor Eduardo Galeano, autor de incrível As veias abertas da América Latina definiu isso como a “Maldição Branca” (clique aqui para baixa uma brochura da Juventude Revolução - IRJ com o texto), num texto muito claro e importante sobre a história do Haiti que recomendo.

Essa “Maldição Branca” é o ódio contra um povo que conquistou a liberdade. É o mesmo ódio usado Espártaco que com seu exército foi crucificado.

Ano após anos o povo do Haiti foi violentado em sua soberania. Estigmatizado. Ocupações, dívidas indenizatórias, ditaduras sangrentas de Papa Doc e Baby Doc... Tudo isso pois não aceitam que um povo tenha se libertado contra a opressão.

Hoje o Haiti está ocupado pela ONU. As tropas brasileiras comandam esse absurdo. O vídeo do jornalista estadunidense Kevin Pina: “O que se passa no Haiti?” (clique no link para assitir no google vídeo) está sendo divulgado em todo o Brasil.

No próximo dia 10 de outubro em várias partes do Brasil vão ocorrer manifestações pela retirada das tropas de ocupação do Haiti em todo o continente. No Brasil vão ocorrer manifestações em pelo menos 20 cidades. Em São Paulo será uma concentração as 17h na esquina da Av. Paulista com a Rua Augusta, no escritório da presidência da República.

Ler esse poema da Emmelie Prophéte é uma demonstração clara que o Haiti e o povo haitiano devem decidir eles próprios o seu futuro. Sem ocupações e violações a sua soberania.

Perdoem-me pelo tamanho desta mensagem. Mas pelo Haiti, vale a pena.

Saudações,

Alexandre Linares
Editor -
http://desonradospoetas.blogspot.com

O Mar e a Borboleta


Porque ninguém lhe disse da fundura
a borboleta branca não tinha medo do mar
Era para ela uma plantação de folhas verde
se ao pousar, a asa tenra se gela no toque da água
e volta cansada como uma princesa
A borboleta, ressentida do mar de março sem flores,
sente a fina cintura gelar no crescente azul.


[ Kim Gui-rim ]

Leia a apresentação de Paulo Lemiski no livro "A moderna poesia coreana" onde este poema de Kim Gui-rim foi publicado:
http://www.libre.org.br/titulo_view.asp?ID=1428

Poema de Bei Dao


Para não me ajoelhar na Terra
contrastando assim
com a elevação do carrasco
que impede os ventos da liberdade


[ Bei Dao ]



Sobre o poeta e seus poemas:
Em 1989, Bei Dao estava no exterior, não pôde retornar a seu país, proibido pelo governo, em conseqüência do massacre promovido pela burocracia do Partido Comunista Chinês liderada por Deng Xiaoping. A razão foi que nas ruas em torno da praça da Paz Celestial, os manifestantes que pediam a liberdade, o socialismo sem a burocracia opressora e o fim da uma inflação em espiral ascendente carregavam seus versos em cartazes nas manifestações.



Estudante chinês enfrentando os tanques da burocracia chinesa em 1989.

Para saber mais sobre Bei Dao (em inglês):
http://en.wikipedia.org/wiki/Bei_Dao

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Estrela


Escutai! Se as estrelas se acendem
será por que alguém precisa delas?

Por que alguém as quer lá em cima?
Será que alguém por elas clama,
por essas cuspidelas de pérolas?
Ei-lo aqui, pois, sufocado, ao meio-dia,
no coração dos turbilhões de poeira;
ei-lo, pois, que corre para o bom Deus,

temendo chegar atrasado,
e que lhe beija chorando
a mão fibrosa.
Implora! Precisa absolutamente
duma estrela lá no alto!
Jura! Que não poderia mais suportar

essa tortura de um céu sem estrelas!
Depois vai-se embora,
atormentado, mas bancando o gaiato
e diz a alguém que passa:
"Muito bem! Assim está melhor agora, não é?
Não tens mais medo, hein?"

Escutai, pois! Se as estrelas se acendem
é porque alguém precisa delas.
É porque, em verdade, é indispensável
que sobre todos os tetos, cada noite,
uma única estrela, pelo menos, se alumie.


[
Vladimir
Maiakovski ]




Saiba mais sobre Maiakovski
:

http://www.apropucsp.org.br/revista/rcc01_r11.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/Vladimir_Mayakovsky



Cronologia de Maiakovski
http://www.apropucsp.org.br/revista/rcc01_r10.htm

Cartazes de Maiakovski


Cartaz de propaganda do soviético


Poema gráfico para Lili Brik


Cartaz de propaganda do soviético


Cartaz de evento em homenagem aos 70 anos de Maiakovski desenhado por Marc Chagall

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Dez chamamentos ao amigo


Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse

Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.


[ Hilda Hilst ]

Poesia: 1959-1979 - São Paulo: Quíron; (Brasília): INL, 1980.




Hilda Hilst na juventude.


Saiba mais sobre Hilda Hilst:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Hilda_Hilst

http://www.artelivre.net/html/literatura/al_literatura_hilda_hilst_morte.htm

domingo, 21 de setembro de 2008

Polaco loco paca


É um curta metragem produzido no Rio Grande do Sul com apoio da prefeitura de Porto Alegre, nos anos 1980 com o Paulo Leminski e a Alice Ruiz.

Foi publicado no Youtube em duas partes e eu mostro à vocês.


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POLACO LOCO PACA - PARTE I
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POLACO LOCO PACA - PARTE II
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