quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Alfa e Ômega


Um beijo
Encadeou rios
Em um só leito
Amante de um curso
perdido entre as águas

Quem estava agora na corrente
enquanto um pardal
flui em ouros cenários.

Deixa, se foi
nada se pode deter
Não tem jeito.


[ Nora Alarcón ]

Sobre a autora:
Nasceu em Ayacucho, Peru, em 1967. Estudou cinema e jornalismo.


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Versão original em espanhol:

Alfa e Omega

Un beso
Encadenó ríos
A un solo cauce
Amante de un curso
perdido entre las aguas

Quién estará ahora en la corriente
mientras ese gorrión
Fluye en otros escenarios


Deja, ya fue
nada se puede detener
No tiene remedio.


[ Nora Alarcón ]

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Cântico dos cânticos

( fragmento )

Quão belos são os teus pés
nas sandálias que trazes, ó filha de príncipe!
As colunas das tuas pernas são como anéis
trabalhados por mãos de artista.
o teu umbigo é uma taça arredondada,
que nunca está desprovida de vinho.
O teu ventre é como um monte de trigo
cercado de lírios.
Os teus dois seios são como dois filhinhos
gêmeos duma gazela.
O teu pescoço é como uma torre de marfim.
Os teus olhos são como as piscinas de Hesebon,
que estão situadas junto da porta de Bat-Rabim.
O teu nariz é como a torre do Líbano,
que olha para Damasco.
A tua cabeça levanta-se como o monte Carmelo;
os cabelos da tua cabeça são como a púrpura
um rei ficou preso às suas madeixas.
Quão formosa e encantadora és,
meu amor, minhas delícias!
A tua figura é semelhante a uma palmeira.
Eu disse. Subirei à palmeira,
e colherei os seus frutos.
Os teus seios serão, para mim, como cachos de uvas,
e o perfume da tua boca como o das maçãs.

[ Salomão ]


Para ler o texto completo do Cântico dos Cânticos:
http://www.dhnet.org.br/w3/henrique/espiritualidade/salomao/cantares.html

Sobre Salomão:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Salomão



Sobre Salomão e seus Cânticos

De todos os livros bíblicos, o de Salomão (chamado de Salmos) é possivelmente uma das contribuições literárias mais importantes da cultura judaíco-cristã-islâmica.


As três principais religiões monoteístas encaram Salomão como um dos seus.

Sou materialista convicto desde meus 14 anos.

Antes era materialista não muito convicto. Depois de ler o Testamento de Leon Trotsky e a Teses de Feuerbach do Marx me resolvi nos assuntos religiosos.

Na minha família sempre houve ecumenismo religioso que me deixava confuso. Catolicismo, Umbanda, Budismo e ainda tios evangélicos...

Trabalhando no comércio ambulante com meu pai soube que o respeito religioso é condição para vender.

Descobri isso também lendo as histórias do Conan, o Bárbaro que sabiamente aprendia tudo sobre as religiões por onde caminhava e só citava as divindades locais para ter o mínimo de proteção. Esse era o resultado dele crer em Crow, o deus da montanha dos cimérios, que pouco se importava com os seus adeptos.

Quando li esse poema, trecho do Cântico dos Cânticos me lembrei de dois filmes importantes. Filmes que me marcaram muito.

O primeiro foi o “As minas do Rei Salomão” adaptação para o cinema do clássico livro da aventuras de Allan Quatermain, o aventureiro da África criado e escrito por Henry Rider Haggard. Esse filme eu assisti em 1985, no cinema. Foi a primeira vez que fui ao cinema com meu pai. Era legendado. Não entendi muito, mas dei muita risada das imagens.

O segundo foi o “Footloose – Ritmo Louco” sobre uma cidade ultra-religiosa nos EUA onde a música para dançar, a bebida e o direito de festas foi havia sido proibida. E numa polêmica com os jovens que queriam fazer festas, uma disputa rola com os poderes municipais até que o ator principal pega a bíblia e cita as festas de Salomão onde rolava música e vinho.

Independentemente das opiniões religiosas de cada um dos leitores, recomendo a leitura deste trecho pois ele é belo.

E como gosto de lembrar a máxima preferida de Marx: “nada de humano me é estranho”.

Boa leitura.

Alexandre Linares

Livro "As minas do Rei Salomão" – Tradução de Eça de Queiróz
http://www.gutenberg.org/files/22015/22015-h/22015-h.htm

Clipe de "Footloose - Ritmo Louco"
http://www.youtube.com/watch?v=nwBbMXYDsXw

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Livros e flores

Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor,
Em que melhor se leia
A página do amor?

Flores me são teus lábios.
Onde há mais bela flor,
Em que melhor se beba
O bálsamo do amor?

[ Machado de Assis ]




Leia mais poemas de Machado de Assis
http://www.jornaldepoesia.jor.br/machado.html

História interessantíssima (sobre Machado) - Wilson Martins
http://www.jornaldepoesia.jor.br/wilsonmartins132.html

Para saber mais sobre Machado de Assis
http://pt.wikipedia.org/
wiki/Machado_de_Assis

Portal do Machado de Assis (com obra completa) desenvolvido pelo MEC
http://portal.mec.gov.br/machado




Mensagem aos leitores de Desonra dos Poetas

Eu sou um herege.

Desses que o frei dominicano Nicolau Eymerich não teria dúvidas de enviar para a fogueria.

Pouco lí de Machado de Assis.

Não tenho dúvidas: a escola me traumatizou.

Nem me lembro quando falaram para ler Machado de Assis na escola. Só sei que não passei da quinta página.

Do mesmo modo ocorreu com o José de Alencar. Esse sofreu mais. Quando a professora ordenou ler um obra sua, mas omitiu que o José de Alencar foi um ardoroso defensor da escravidão.

Antes de ler o livro indicado, lí sua biografia. Soube que no no Senado Imperial, denunciava os abolicionistas brasileiros como "haitianistas", pois queriam acabar com a exploração do trabalho escravo.

Na prova escrevi uma longa redação sobre porque me recusava a ler um escravocrata canalha. Foi divertido.

Mas no caso do Machado de Assis, acho que erraram os professores em propor um livro tão pesado para um jovem sem leitura e eu errei ao não me esforçar para conhecer esse fundador da literatura brasileira.

Tive sorte maior com o Eça de Queiroz. A minha querida professora Aliete, uma entusiasta da literatura, fez uma apresentação do autor português tão intensa, que quando peguei "A Relíquia", me intimei a chegar até a última página (inclusive colaborei de algum modo com a genial adaptação em Quadrinhos feita por Marcatti, que você pode ler um trecho clicando aqui). E olha que para chegar na página 100 foi com muito esforço. Depois deslanchou.

Algum tempo depois pude ler a um livro de crônicas do Machado de Assis. Lembro de uma chamada "Analfabetismo" de 1876. Era uma de uma indignação contra as instituições que sustentavam um país onde apenas 30% das pessoas sabiam ler.

Hoje, na data do centenário de morte de Machado, me coloco o problema de superar esse trauma e encarar a obra do Machado. Começo pela poesia.

Espero que gostem.

Alexandre Linares

PS1: Também homenageio os editores Antônio do Amaral Rocha e Valentim Facioli da Nankin Editorial
que tanto trabalham na divulgação dos estudos sobre Machado de Assis e da boa poesia também.

PS2: Um acaso. Na pesquisa encontrei essa crônica de Machado de Assis sobre José de Alencar.
http://portal.mec.gov.br/machado/arquivos/html/cronica/macr18.htm